Marte Um

“Marte Um” apresenta uma família negra que vive na periferia da cidade de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Como em todas as famílias, cada membro tem seus sonhos e frustrações. Isso é explorado de forma muito sensível durante o filme.

Wellington, o pai, é porteiro em um condomínio de alto padrão e sonha que o filho se torne jogador de futebol. Já Deivinho, o filho, tem outras expectativas para sua vida. O garoto pensa em estudar e trabalhar, com a intenção de fazer parte de uma missão espacial no planeta Marte.

A mãe, Tércia, tem sua vida abalada após uma experiência de brincadeira feita por uma emissora de TV. A brincadeira a deixou traumatizada e com eventos de crises de pânico. Eunice, a filha mais velha, é estudante de Direito e passa a se relacionar com outra garota.

A família passa, pouco a pouco, a enfrentar dificuldades que não havia enfrentado antes. E isso mexe de alguma forma com cada um deles; pai, mãe, filha e filho.

Eunice decide sair de casa e ter a sua independência, o que já incomoda os pais. Deivinho, secretamente, pensa na carreira na área científica. Porém, Wellington aposta todas as fichas no filho numa provável carreira no futebol. Ele fica ainda mais entusiasmado quando um ex-jogador do Cruzeiro passa a morar no condomínio onde ele trabalha. É muito claro que Wellington quer se realizar através do filho. Talvez ele enxergue em Deivinho a oportunidade que não teve.

“Marte Um” é um filme que transmite os dramas, as alegrias, os medos, os sonhos e as frustrações da família. E o diretor-roteirista Gabriel Martins acertou no ponto, quando optou pela simplicidade. Não há nada exagerado nos problemas que a família enfrenta. “Ah, mas o Deivinho sonha em ir para Marte! Isso é impossível”, alguém pode dizer. Mas o Deivinho é uma criança. Ele tem o direito de sonhar mais alto.

Embora muita coisa tenha escapado do que fora planejado pelos nossos personagens, o filme dialoga com a questão da busca pela felicidade. Perrengues são percalços que a gente encontra pelo caminho. É assim com a minha família, com a família do meu vizinho, com a família da minha tia que vive no interior de São Paulo. Todos têm desejos e tristezas. Afinal, a vida é assim. A vida é feita de altos e baixos.

“Marte Um” é perfeito em todos os seus aspectos técnicos de produção. Montagem, fotografia, arte e trilha sonora. O elenco principal, composto pelos atores Carlos Francisco e Cícero Lucas, e pelas atrizes Rejane Faria e Camilla Damião, está impecável.

Seja brasileiro ou estrangeiro, assistir “Marte Um” é uma experiência única. É muito fácil o espectador se identificar com um ou mais personagens. E mesmo que alguém não se identifique com os personagens, a gente termina criando um laço afetivo com a família, de tal modo que nos sentimos juntos deles no final do filme.