Edumall Preloader

Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo

racionais-das-ruas-de-sao-paulo-pro-mundo
Filme da Semana The Movie Club

Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo

Lançado em novembro de 2022, o documentário (Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo) produzido pela diretora Juliana Vicente retrata a trajetória da mais influente banda do movimento Hip-Hop brasileiro.

Por meio de entrevistas com os membros da banda, imagens e vídeos de arquivos, o documentário ilustra como, ao longo do tempo, os Racionais MC’s emergiram da periferia da cidade de São Paulo para o sucesso no Brasil e no mundo.

Os lançamentos dos EP’s “Holocausto Urbano” (1990) e “Escolha o seu Caminho” (1992) ficaram restritos principalmente às pessoas que já consumiam a cultura Hip-Hop. Porém, tudo mudou com o lançamento de “Raio X Brasil” em 1993, quando as músicas “Homem na Estrada” e “Fim de Semana no Parque” começaram a ser tocadas com frequências até mesmo em rádios que não eram especializadas em Rap.

Não apenas os Racionais se tornaram populares, mas também o Rap nacional. Embora já existissem outras bandas de Rap muito boas no Brasil, os Racionais MC’s elevaram o ritmo para um outro patamar. Isso abriu caminho para que várias outras bandas surgissem, que passaram a rimar os problemas enfrentados nas periferias das grandes cidades do Brasil.

Se com “Raio X Brasil”, o som dos Racionais já havia saído da periferia de São Paulo e atingido um público muito além dos negros periféricos, foi em dezembro de 1997, que eles simplesmente lançaram o álbum mais importante da história do Rap brasileiro: “Sobrevivendo no Inferno”.

“Sobrevivendo no Inferno” vendeu cerca de 1 milhão de cópias. É um número gigantesco se pensarmos que naquele momento os integrantes da banda recusavam convites para participarem de programas de TV de emissoras que ainda retratavam o negro como empregados domésticos em telenovelas, ou como personagens humorísticos que eram alvos de piadas sobre a cor da sua pele, ou até mesmo com dançarinas “hipersexualizadas” e vistas como objetos.

“Sobrevivendo no Inferno”, nasceu como um álbum clássico e o tempo só comprovou isso. Praticamente todas as suas músicas se tornaram hits, trazendo uma série de reflexões num país onde sempre existiu uma falsa sensação de democracia racial. Ao longo do ano de 1998, as rimas de “Capítulo 4, Versículo 3”, “Rapaz Comum”, “Tô Ouvindo Alguém Me Chamar”, “Periferia é Periferia” e, principalmente, “Diário de um Detento” chamaram a atenção da população não negra para os problemas enfrentados pelos negros no país.

Da mesma forma que as letras dos Racionais passaram a ser discutidas entre intelectuais, estudantes, dentro e fora de universidades, eles também começaram a ser criticados por, supostamente, fazerem apologia da violência e da criminalidade. Fato é que, a representação de negros interpretando empregados domésticos, alvos de piadas ou dançando de forma erótica não incomoda. Porém, quando negros denunciam problemas como péssimas condições de moradia, abandono por parte do Estado, falta de infraestrutura, educação, racismo, violência policial, isso incomoda e incomoda muito.

Racionais MC’s na Virada Cultural

Em 2002, os Racionais MC’s lançaram o álbum “Nada Como Um Dia Após o Outro”, e, em 2014, “Cores & Valores”. E músicas como “Negro Drama”, “Jesus Chorou”, “Vida Loka” (I e II), “Quanto Vale o Show?”, dentre outras, continuaram a manter a banda em evidência.

O documentário “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo” nos leva a refletir que, infelizmente, muitas das questões denunciadas pela banda desde os anos 1990 ainda se fazem presentes no cotidiano da população negra periférica do Brasil. Por outro lado, faz com que a luta antirracista se fortaleça ainda mais, visando combater o racismo estrutural que ainda é profundamente enraizado. Hoje, cerca de 67% da população que mora em favelas no Brasil é negra. Já nos presídios brasileiros, 67,4% da população carcerária é composta por gente negra.

O filme ainda foi lançado num momento extremamente importante, pois estudiosos, especialistas, rappers e MC’s, trabalham para a criação de um inventário, que tem como objetivo o reconhecimento do Hip-Hop como patrimônio imaterial do Brasil pelo IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Comments (0)

  1. valadaresmeireles

    Excelente texto, Marcelo!

    1. logo-1
      Marcelo Caronesi

      Valeu! Obrigado!

Leave your thought here

Your email address will not be published. Required fields are marked *