Tropa de Elite
Tropa de Elite
Baseado no livro “Elite da Tropa“, escrito pelos ex-oficiais do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) André Batista e Rodrigo Pimentel, em parceria com o antropólogo Luiz Eduardo Soares, “Tropa de Elite” foi lançado em 2007. Com roteiro adaptado por José Padilha e Bráulio Mantovani, o longa-metragem é dirigido pelo próprio Padilha e acompanha a vida policial de três importantes personagens: o frustrado capitão Nascimento (Wagner Moura) e os idealistas André Matias (André Ramiro) e Neto (Caio Junqueira).
O filme apresenta uma narrativa não linear, situada em 1997, na véspera de uma visita do Papa João Paulo II. A trama começa com uma ação policial frustrada durante um baile funk numa favela carioca.
José Padilha utiliza desde o início a narração em off, que serve como um mecanismo para demonstrar os pensamentos e sentimentos do capitão Nascimento, proporcionando ao filme um tom documental. Essa é uma das características distintivas do diretor. A narração em off, se utilizada de forma exagerada, pode tornar o filme cansativo. Porém, isso não acontece em “Tropa de Elite”, afinal o capitão Nascimento precisa explicar sobre si, sobre os policiais novatos e iludidos, e também, sobre “o sistema”.
O filme “Tropa de Elite” faz duras críticas à corrupção e burocracia da Polícia Militar do Rio de Janeiro. O capitão Nascimento expõe as relações promíscuas de alguns agentes de segurança com o crime organizado, evidenciando a cobrança de propinas e envolvimento com o jogo do bicho. Esses aspectos são coisas que Neto e Matias só irão descobrir futuramente e por conta própria. Embora os dois novatos tenham ciência da existência desses defeitos dentro das corporações policiais, cada um, dentro de sua própria mentalidade, acredita poder mudar a estrutura do “sistema”.
A entrada de Matias e Neto para o BOPE se desenrola simultaneamente com a forma como o primeiro lidava com os estudos no curso de Direito e com a sua participação numa ONG (Organização Não Governamental) na favela da Babilônia.
“Tropa de Elite” é um ótimo filme de ação policial, mas pode pecar em alguns detalhes. O livro que o inspirou foi escrito por ex-policiais, o que significa que apresenta uma visão particular sobre o problema crônico da segurança pública no Rio de Janeiro. O tráfico de drogas e o crime organizado são uma realidade assustadora que afeta o cotidiano da população e aterroriza suas vidas. A corrupção e a criminalidade entre alguns policiais também são problemas graves. No entanto, o filme não aborda o fato de que há décadas as polícias militar e civil do Rio de Janeiro vêm adotando uma estratégia que se mostrou ineficaz. Por quase meio século, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro tem seguido um modelo de política de segurança pública que não produziu resultados práticos, não reduziu a criminalidade e, ao longo das décadas, a violência urbana só aumentou. Essa série de equívocos, resultado de uma política pública baseada principalmente na violência, abriu espaço para a criação de grupos milicianos por agentes de segurança e civis, que acabaram utilizando as mesmas táticas dos traficantes para fazer dinheiro.
Isto é discutido no filme sequência, mas o problema de segurança pública no Rio de Janeiro vai muito além da “guerra” tão falada pelo capitão Nascimento e do “bandido bom é bandido morto” falado pelo mesmo personagem no segundo filme. O problema é muito mais complexo e exige muito mais coisas, começando por um serviço de inteligência policial bem mais eficiente.
“Tropa de Elite” apresenta para o público também as relações entre crime organizado e política. Isto fica bem mais evidente no segundo filme. E também é explicado como a formação de milícias complica ainda mais uma situação que já é caótica.
Ao assistir “Tropa de Elite”, é importante que o espectador tenha em mente duas coisas: 1) É uma obra de ficção, baseada em um livro escrito por dois ex-policiais; 2) As favelas são habitadas, em sua maioria, por pessoas honestas e trabalhadoras. A grande maioria dos moradores das favelas, que vivem sob o domínio do tráfico ou das milícias, não se opõe às ações desses grupos por medo de represálias que podem colocar suas vidas em risco.
“Tropa de Elite” é um filme que acerta em muitos aspectos, retratando uma realidade vivida por grande parte da população brasileira que reside em favelas e enfrenta diariamente a violência. Seus principais triunfos são as atuações impecáveis de um elenco extremamente talentoso, a envolvente trilha sonora, o cuidado com o design de produção, figurino, direção de arte e fotografia que contribuem para criar uma atmosfera intensa e realista. O filme é uma poderosa reflexão sobre questões sociais e políticas, e sua relevância permanece significativa mesmo após os anos de seu lançamento.